Sou uma admiradora incondicional de Alvares de Azevedo, e em certo ponto de minha vida cheguei a ter um amor platônico por ele, mórbido amor, como o de suas poesias, quem conhece sabe... Bom, lendo sua biografia a impressão que tive é que ele era bastante depressivo porém estramamente inteligente. Nasceu em São Paulo, 12 de setembro em 1831, mas morreu cedo demais, ele praticamente profetizou sua morte, impressionado com a morte de dois amigos em anos seguidos ele escreve na parede de seu quarto de pensão desta forma:
1850 - Feliciano Coelho Duarte
1851 - João Batista da Silva Pereira
1852 - ...
O último ano referia-se a ele mesmo, o que realmente aconteceu, 25 de abril de 1852 no Rio de Janeiro, falecia Álvares de Azevedo ou Maneco como era chamado pela família, por complicações logo após uma queda de cavalo, visto que já estava acometido de tuberculose.
Estudante de Direito (São Francisco), formado em Letras e fixado na morte, uma grande características de seus poemas era a exaltação a morte, li uma vez não me recordo onde, uma pena, que a mais radical fuga romântica é a morte, dramático não? Pelo visto a morbidez não era uma característica específica de suas poesias, acredito que em sua vida também era. Ele passava para as palavras de forma brilhante o seu mundo interior, que ao meu ver era fantástico, sedutor, envolvente, soturno, romântico, mórbido, e por aí vai... Com grandes influências de Lord Bayron e Musset, assim era suas poesias tocando no mais profundo da alma...
Gosto muito de um poema escrito por ele para seu irmãzinho quando falecera...
ANJINHO
Não chorem... que não morreu!
Era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!
Pobre criança! Dormia:
A beleza reluzia
No carmim da face dela!
Tinha uns olhos que choravam,
Tinha uns risos que encantavam!...
Ai meu Deus! era tão bela.
Um anjo d’asas azuis,
Todo vestido de luz,
Sussurrou-lhe num segredo
Os mistérios doutra vida!
E a criança adormecida
Sorria de se ir tão cedo!
Tão cedo! que ainda o mundo
O lábio visguento, imundo,
Lhe não passara na roupa!
Que só o vento do céu
Batia do barco seu
As velas d’ouro da poupa!
Tão cedo! que o vestuário
Levou do anjo solitário
Que velava seu dormir!
Que lhe beijava risonho
E essa florzinha no sonho
Toda orvalhava no abrir!
Não chorem! lembro-me ainda
Como a criança era linda
No fresco da facezinha!
Com seus lábios azulados,
Com os seus olhos vidrados
Como de morta andorinha!
Pobrezinho! o que sofreu!
Como convulso tremeu
Na febre dessa agonia!
Nem gemia o anjo lindo,
Só os olhos expandindo
Olhar alguém parecia!
Era um canto de esperança
Que embalava essa criança?
Alguma estrela perdida,
Do céu c’roada donzela...
Toda a chorar-se por ela
Que a chamava doutra vida?
Não chorem... que não morreu!
Que era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!
Era uma alma que dormia
Da noite na ventania
E que uma fada acordou!
Era uma flor de palmeira
Na sua manhã primeira
Que um céu d’inverno murchou!
Não chorem! abandonada
Pela rosa perfumada,
Tendo no lábio um sorriso,
Ela se foi mergulhar
— Como pérola no mar —
Nos sonhos do paraíso!
Não chorem! chora o jardim
Quando marchado o jasmim
Sobre o seio lhe pendeu?
E pranteia a noite bela
Pelo astro ou a donzela
Mortos na terra ou no céu?
Choram as flores no afã
Quando a ave da manhã
Estremece, cai, esfria?
Chora a onda quando vê
A boiar um irerê
Morta ao sol do meio-dia?
Não chorem!... que não morreu!
Era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!
Lindo, né? Leiam mais seus poemas....
apesar de bem mórbido, é lindo mesmo, também gosto do Alvares de Azevedo, a história dele é repleta de obscuridade dizem até que fazia parte de uma sociedade anônima, nunca fui muito afundo para descobrir isso, mas ele tinha um talento enorme para literatura e poesia. Curti seu blog.
ResponderExcluirChris linda ! Vc é fantastica mesmo beijos
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